
As trincas e fissuras são manifestações patológicas comuns nas edificações e, muitas vezes, geram preocupação em moradores, síndicos e até mesmo profissionais da área. Apesar de parecerem semelhantes, elas possuem características, causas e níveis de gravidade distintos e entender essas diferenças é essencial para definir a intervenção correta.
Este artigo traz uma abordagem técnica, mas acessível, sobre os tipos mais comuns de trincas e fissuras, suas possíveis causas, formas de diagnóstico e os caminhos corretivos conforme as normas técnicas vigentes.
O que são trincas e fissuras?
Segundo a ABNT NBR 15575:2013 – Norma de Desempenho de Edificações Habitacionais, qualquer falha que comprometa o desempenho da estrutura ou dos elementos de vedação deve ser considerada relevante. Trincas e fissuras são aberturas lineares em superfícies de alvenaria, concreto ou revestimentos e podem variar em largura, profundidade e extensão. Atualmente, não existe uma norma específica da ABNT que defina de forma padronizada os limites de abertura de trincas e fissuras aplicáveis a todos os tipos de elementos construtivos.
Entretanto, algumas normas oferecem critérios complementares. A ABNT NBR 6118:2023, voltada ao projeto de estruturas de concreto armado, recomenda que fissuras em elementos estruturais não ultrapassem 0,3 mm, especialmente em ambientes agressivos ou expostos à umidade. Por outro lado, o valor de 0,5 mm citado em muitas inspeções prediais e perícias é adotado como um parâmetro prático não normativo, utilizado para diferenciar fissuras superficiais (geralmente estéticas) de trincas mais significativas, com potencial comprometimento funcional.
Essa abordagem é amplamente difundida em documentos técnicos, como o Manual de Inspeção Predial do IBAPE/SP, e leva em consideração não apenas a abertura, mas também a evolução, a profundidade e a localização das manifestações.
- Fissura: abertura superficial, geralmente com menos de 0,5 mm de largura. Normalmente é estética.
- Trinca: abertura maior que 0,5 mm ampla, com potencial de comprometer o desempenho funcional ou estrutural.
Quais são as causas mais comuns?
As causas são diversas, e podem ser agrupadas em quatro principais categorias:
- Variações térmicas: dilatação e retração dos materiais, comuns em regiões com grande amplitude térmica diária.
- Movimentações estruturais: recalques diferenciais da fundação, sobrecargas ou vibrações não previstas.
- Retração dos materiais: como a retração da argamassa, do concreto ou de revestimentos mal curados.
- Vícios construtivos: ausência de juntas de dilatação, falta de amarração entre elementos e uso de materiais inadequados.
Além disso, a falta de manutenção preventiva, especialmente em edificações com mais de 10 anos, agrava essas manifestações.
Como identificar e quando agir?
A ABNT NBR 16747:2020 – Inspeção Predial não apresenta uma listagem específica de manifestações patológicas a serem consideradas críticas, mas estabelece que sua avaliação deve levar em conta o risco potencial, o impacto funcional e a urgência de intervenção. Com base em boas práticas profissionais e diretrizes técnicas, como as do IBAPE/SP, algumas condições merecem atenção especial, tais como:
- A trinca atravessa mais de um elemento (ex: parede + laje).
- Apresenta crescimento visível em curto período.
- Há sinais de infiltração, ferrugem ou mofo ao redor.
- Compromete elementos estruturais (pilares, vigas, fundações).
Soluções corretivas possíveis
Antes de tudo, é necessário diagnóstico técnico por engenheiro habilitado, conforme exige o CREA – Conselho Regional de Engenharia e Agronomia. Só após o laudo é possível definir o método adequado de reparo, que pode incluir:
- Rejuntes e selantes para fissuras superficiais.
- Injeção de resinas epóxi em trincas estruturais.
- Reforço estrutural com fibra de carbono ou aço.
- Demolição e reconstrução local em casos severos.
Dê uma olhada no quadro abaixo e tire todas as suas dúvidas!
CRITÉRIO | FISSURA | TRINCA |
Largura | Inferior a 0,5 mm | Superior a 0,5 mm |
Profundidade | Superficial | Pode atingir camadas internas ou estrutura |
Gravidade | Baixa | Moderada a alta |
Causa provável | Retração, temperatura | Recalque, vibração, erro estrutural |
Ação recomendada | Selamento, pintura e etc | Laudo técnico e reforço, se necessário |
Conclusão
Trincas e fissuras são muito mais do que simples marcas em paredes ou pisos, elas são indícios de que algo pode estar comprometendo a integridade da edificação. Ainda que muitas vezes sejam superficiais e tenham apenas impacto estético, sua origem pode revelar problemas estruturais mais sérios, especialmente quando ignoradas ou tratadas de forma inadequada.
A boa notícia é que, quando diagnosticadas corretamente e com antecedência, a maioria dessas manifestações pode ser corrigida de maneira eficaz e segura. Para isso, é essencial contar com o olhar técnico de um engenheiro habilitado, que avaliará o comportamento das fissuras, suas causas e as soluções corretivas compatíveis com cada caso.
Além disso, reforça-se a importância da manutenção preventiva, da observação contínua e do cumprimento das normas técnicas, como a ABNT NBR 16747:2020, que estabelece diretrizes para inspeções prediais. Esses cuidados não apenas preservam o desempenho da edificação, mas garantem segurança, conforto e valorização do patrimônio.
Se notar qualquer fissura ou trinca no seu imóvel, encare isso como um sinal de alerta e não apenas como um problema estético. Avaliar, entender e agir no momento certo pode evitar transtornos maiores no futuro. Afinal, cuidar do imóvel é cuidar daquilo que protege a sua história.
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Referências
Este artigo foi elaborado com base nas normas técnicas brasileiras, visando fornecer uma visão clara e precisa sobre as diferenças entre inspeção, vistoria e perícia técnica.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575:2013 – Edificações Habitacionais – Desempenho. Rio de Janeiro: ABNT, 2013.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9452:1986 – Aberturas em elementos de concreto – Terminologia e classificação. Rio de Janeiro: ABNT, 1986.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 16747:2020 – Inspeção Predial – Diretrizes, conceitos, terminologia e procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2020.
CONSELHO FEDERAL DE ENGENHARIA E AGRONOMIA. Resolução nº 1.025, de 30 de outubro de 2009. Dispõe sobre a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART). Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, n. 209, p. 143–145, 2 nov. 2009.